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Bactérias intestinais, ansiedade e depressão

7 de agosto de 2015

Os mecanismos complexos de interação e dinâmica entre microbiota intestinal e seu hospedeiro têm sido iluminados por pesquisa recente. Dados mostram que mudanças relativamente pequenas nos perfis de microbiota intestinal e alterações na atividade metabólica induzida por estresse neonatal podem produzir efeitos profundos no comportamento do hospedeiro na vida adulta.

Este é o primeiro estudo a explorar o papel da microbiota intestinal no comportamento alterado que é consequência de estresse precoce de vida.

Cientistas da Farncombe Family Digestive Health Research Institute na Universidade McMaster descobriram que bactérias intestinais desempenham um papel importante na indução de ansiedade e depressão. O novo estudo, publicado em Nature Communications, é o primeiro a abordar esse tema.

“Conseguimos demonstrar, pela primeira vez em um modelo de ansiedade e depressão, estabelecido com ratos, que bactérias desempenham um papel crucial em induzir esse comportamento anormal”, diz Premysl Bercik, autor sênior do artigo e professor associado de medicina na Escola de Medicina McMaster’s Michael G. DeGroote. “Mas não se trata somente de bactérias. Trata-se de uma comunicação bi-direcional alterada entre o hospedeiro estressado – ratos sujeitados a estresse precoce de vida – e sua microbiota, que conduz a comportamentos compatíveis com ansiedade e depressão.”

Já se sabe, há algum tempo, que bactéria intestinal pode afetar comportamento, mas muito da pesquisa prévia utilizou ratos normais, saudáveis, esclarece Bercik.

Neste estudo, pesquisadores sujeitaram filhotes de rato a estresse precoce de vida, com um procedimento de separação maternal, significando uma separação de três horas diárias dos filhotes, do 3° ao 21° dias de vida. Depois das três horas de separação os filhotes eram recolocados de volta com as mães.

Primeiramente, Bercik e sua equipe confirmaram que ratos convencionais, com uma microbiota complexa, que haviam sofrido o procedimento de separação maternal, apresentavam comportamentos assemelhados a ansiedade e depressão, com níveis anormais de hormônio de estresse corticosterona. Esses ratos também mostraram disfunções gástricas baseadas na liberação do neurotransmissor comum, acetilcolina.

Depois eles repetiram o mesmo experimento em condições livres de germes e descobriram ausência de bactérias nos intestinos dos ratos que haviam sido separados de suas mães em tenra idade, mas que eles ainda assim mostravam níveis alterados de hormônio de estresse e de disfunção intestinal, apesar de se comportarem de modo similar aos sujeitos do grupo controle, sem demonstrar quaisquer sinais de ansiedade ou de depressão.

Em seguida, eles descobriram que quando os ratos que foram separados precocemente de suas mães, e que se encontram livres de germes, foram colonizados com bactérias dos ratos do grupo de controle, a composição bacterial e atividade metabólica mudava durante várias semanas, e os ratos começavam a exibir sinais de ansiedade e depressão.

“Entretanto, se fizermos o contrário e transferirmos as bactérias de ratos estressados nos ratos sem estresse precoce e sem germes inicialmente, não observamos anormalidades. Esses resultados sugerem que neste modelo, ambos os hospedeiros e fatores microbiais são requeridos para o desenvolvimento de comportamentos ansiosos e depressivos. Estresse neonatal conduz a maior reatividade ao estresse e a desordens intestinais que mudam a microbiota do intestine, que, por sua vez, altera a função cerebral”, conclui Bercik.

Ele afirma que com essa nova pesquisa “começamos a explicar os mecanismos complexos de interação e dinâmica entre microbiota intestinal e seu hospedeiro. Nossos dados mostram que mudanças relativamente pequenas no perfil da microbiota ou sua atividade metabólica induzida por estresse neonatal pode produzir efeitos profundos no comportamento do hospedeiro em sua vida adulta.”

Bercik disse que esse é mais um passo no entendimento de como microbiota pode modelar o comportamento de seu hospedeiro, e que pode estender as observações originais para o campo dos transtornos psiquiátricos.

“Seria fundamental determinar se isso também se aplica a humanos. Por exemplo, se podemos detector perfil anormais de microbiota ou atividade metabólica microbial do intestino alterada em pacientes com transtornos psiquiátricos primários, como ansiedade e depressão”, finaliza Bercik.

Referência:
G. De Palma, P. Blennerhassett, J. Lu, Y. Deng, A. J. Park, W. Green, E. Denou, M. A. Silva, A. Santacruz, Y. Sanz, M. G. Surette, E. F. Verdu, S. M. Collins, P. Bercik. Microbiota and host determinants of behavioural phenotype in maternally separated mice. Nature Communications, 2015; 6: 7735 DOI: 10.1038/ncomms8735

Fonte: McMaster University

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