O que é a Terapia EMDR? Como funciona e por que é tão eficaz?

O que é a Terapia EMDR?

A Terapia de Dessensibilização e Reprocessamento por meio de Movimentos Oculares (EMDR) é uma abordagem terapêutica que utiliza estímulos bilaterais (visuais, táteis ou auditivos) enquanto são reprocessadas memórias traumáticas. Esta terapia baseia-se na ideia de que pensamentos, sentimentos e comportamentos negativos são o resultado de memórias não processadas adequadamente. O EMDR foca em mudar as emoções, pensamentos e comportamentos que resultam de uma experiência angustiante (trauma), permitindo que o cérebro retome o seu processo natural de cura.

Como o EMDR funciona?

Nossos cérebros procuram dar sentido aos eventos/informações importantes para a sobrevivência (senha da conta bancária) e armazena essa informação de modo adaptativo: basta precisar da informação que ela se encontra prontamente disponível. O cérebro também descarta ativamente outras informações desnecessárias, menos significativas (o que almoçou no sábado da semana passada?).

Esse processo de administrar informações varia de pessoa para pessoa. As lembranças podem ser agrupadas em redes de memórias, considerando seus componentes (sons, cheiros, imagens, pensamentos, sensações físicas e emoções) ou temas (todas as ocasiões em que encontramos determinada pessoa). Essas redes de memória são únicas, como impressões digitais: cada pessoa tem uma configuração específica. No entanto, nem todas as lembranças são tratadas da mesma maneira.

Se uma vivência foi emocionalmente muito intensa, como o primeiro beijo, essa lembrança permanece em nossa consciência por mais tempo. Em situações de risco de morte, o sistema de aprendizagem do cérebro pode se sentir sobrecarregado e ter dificuldades para encontrar um sentido e arquivar essa recordação. Por exemplo, é comum ouvir alguém dizer: “Não consigo tirar da cabeça aquela cena do atropelamento”. É como carregar um peso exagerado na academia sem preparo: ficamos doloridos ou machucados por alguns dias. Na maioria das vezes a dor passa, mas em memórias traumáticas, não.

Imagens, sons ou cheiros que lembram um evento traumático podem ativar essas memórias armazenadas de forma mal-adaptativa. Diferentemente de outras memórias, as traumáticas podem despertar reações de medo, ansiedade, raiva, tristeza, culpa ou vergonha, mesmo quando nada no presente justifica essas emoções. Se essas reações emocionais e físicas persistirem por semanas, pode-se diagnosticar um transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Pessoas com essas recordações involuntárias do passado (flashbacks) sentem como se estivessem revivendo o evento perturbador, misturando o passado com o presente.

“Uma das maiores lições que aprendi na vida é que às vezes é preciso voltar atrás e lidar com situações realmente desconfortáveis e ser capaz de processá-las para poder curar.”

Novas experiências difíceis podem reativar experiências traumáticas anteriores e intensificar a fragilidade da pessoa para enfrentar desafios. Isso acontece tanto com eventos que lembramos quanto com memórias suprimidas, que saem da consciência. Assim como aprendemos a não tocar em um fogão quente porque queima a mão, a mente tenta suprimir memórias dolorosas ou perturbadoras, especialmente as vividas na infância. No entanto, essa supressão não é perfeita. É como uma parte machucada do corpo: no dia a dia, não lembramos dela, até que uma pequena batida nos traz uma dor aguda e nos lembra de sua existência.

O cérebro funciona de modo semelhante. A lembrança de uma vivência traumática equivale a uma ferida que o cérebro tem dificuldades para superar. A intensidade da experiência pode ser tão grande que, mesmo após a ameaça passar, o receio persiste. A amígdala cerebral, responsável pelo monitoramento dos perigos, permanece ativada, sem voltar ao equilíbrio.

Na Terapia EMDR, utilizamos o modelo teórico de Processamento Adaptativo de Informação (PAI). Esse modelo propõe que o cérebro armazena memórias normais e traumáticas de maneiras diferentes. As memórias bem processadas se organizam como parte da biografia: “Eu vivi isso e essas lembranças me dizem quem sou”. Memórias parcialmente processadas, no entanto, não se integram à biografia da pessoa: “Sinto-me tomado pelo passado, como se aquilo tivesse acontecido ontem”.

Memórias parcialmente processadas, no entanto, não se integram à biografia da pessoa: “Não preciso nem pensar e já me sinto tomado, do mesmo modo que no passado, como se aquilo de ruim tivesse acontecido ontem, em vez de há muitos anos.” Segundo esse enquadre teórico, os problemas de saúde mental são vistos como “resultantes de perturbações no processamento e armazenamento mal-adaptativo de informações”, não nos eventos traumáticos em si.

“É um tipo de terapia de trauma e devo dizer, é absolutamente fantástica. Chorar nunca foi tão bom!”

EMDR nas Séries

Reproduzir

A Terapia EMDR segue um protocolo de 8 fases, que serve como um roteiro para ajudar os pacientes a reprocessar memórias perturbadoras que não estão plenamente integradas. Após avaliar a estabilidade básica do cliente, estabelecemos um plano de ação colaborativo: “De onde vêm as dificuldades de enfrentar e deixar no passado os sintomas e queixas atuais?”. Investigamos as memórias acessíveis e escolhemos uma memória-alvo para reprocessar.

Por meio de passos específicos do protocolo (Fase 3), ativamos a memória-alvo e iniciamos a estimulação bilateral visual, tátil e/ou auditiva (movimentos oculares, toques alternados nos ombros ou sons alternados nos ouvidos). O paciente é instruído a observar de forma curiosa e auto-reflexiva, sem se esforçar para mudar nada.

As mudanças podem ser sutis (alívio na respiração, leveza no peito) ou intensas (vontade de chorar, aperto na garganta, lembranças mais nítidas, emoções e pensamentos inesperados), ou, às vezes, aparentemente nada acontece. Monitoramos a intensidade dessas mudanças para que permaneçam razoáveis, dentro de uma janela de tolerância emocional e física.

Geralmente, a lembrança traumática perde força e se torna menos nítida (“consigo lembrar, mas parece mais distante no passado”); a emoção é dessensibilizada (“sei que foi difícil, mas não me sinto tão mal ao lembrar”); e ocorre uma ligação a redes de memórias positivas, com mudanças no autoconceito (reprocessamento): “Foi difícil, mas sinto que já passou e reconheço ser uma pessoa capaz e que merece coisas boas”.

Experiências que antes desencadeavam respostas negativas podem se tornar menos perturbadoras após o tratamento com EMDR. Quando uma memória é completamente reprocessada, ela informa, mas não controla a pessoa. O foco principal do EMDR é ativar a capacidade inata do cérebro para o processamento adaptativo de informações e a constante atualização da biografia do indivíduo ao seu presente.

Entre as sessões, reavaliamos a memória-alvo trabalhada e observamos mudanças ou resistências na rotina do paciente. Portanto, reprocessar memórias traumáticas não basta. Na Terapia EMDR, queremos incentivar a capacidade integrativa dos pacientes, para levar as conquistas do reprocessamento para suas vidas e implementar mudanças.

Eu fiz muito EMDR. Foi muito útil! Essencialmente, você elimina as sensações físicas associadas a essas memórias dolorosas. O EMDR realmente me ajudou.”

Vídeos sobre EMDR

5 Vídeos