A Evolução do EMDR – Parte 2

14 de março de 2015

Continuação da entrevista com Dra. Francine Shapiro – Parte 2

Os oito estágios do EMDR

Talvez a Senhora possa nos contar um pouco mais a respeito dos oito estágios da terapia de EMDR?

F.A terapia de EMDR é uma abordagem de oito fases. Durante a primeira fase, o psicoterapeuta faz um levantamento da história do paciente, descobrindo os problemas atuais e os sintomas, há quanto tempo eles vêm se manifestando, quais as questões sistêmicas e de relacionamento, etc. Depois começamos a identificar quais memórias antigas estão causando muitos desses problemas.

Se você trouxer questões de relacionamento como, ‘Eu sempre reajo às críticas de maneira exagerada’, nós tentamos ver o que está causando essa reação. Que memórias antigas poderiam provocar os sintomas? Será que a voz do seu marido a faz recordar a voz do seu pai antes de ele bater em você? Nós temos técnicas específicas para identificar essas memórias problemáticas.

A segunda fase envolve a preparação. Nós ensinamos uma variedade de técnicas de auto-controle para que as pessoas aprendam a migrar de sentimentos negativos para positivos. Essas técnicas podem ser muito úteis para todos, mas nosso esforço tem sido no sentido de diminuir a necessidade de usá-las. Ou seja, se eu sempre estou sendo incomodado por essas memórias não processadas e constantemente tenho que tentar mudar meus pensamentos negativos por positivos, o que eu realmente preciso fazer é processar essas memórias para que elas não me mobilizem mais. Uma técnica de preparação permitirá que a pessoa esteja no controle da situação, assim, quando iniciamos o processamento, se alguma perturbação surgir, e ela sentir que deve interromper, nós simplesmente paramos. Nós usamos a técnica para voltar ao sentimento de bem-estar e assim, quando a pessoa está pronta, retomamos o processamento.

A quantidade de tempo dedicada à preparação depende do quão debilitado o cliente está ao começar o processo. Algumas pessoas nunca tiveram boas experiências – sua infância foi terrível, foram espancados, ignorados, negligenciados, eles não tiveram ninguém em suas vidas que os socorressem ou com quem pudessem contar. Essas pessoas podem estar tremendamente debilitadas emocionalmente, assim pode ser que seja necessário maior tempo de preparação. Para a maioria das pessoas não demora muito, talvez uma sessão ou um pouco mais.

Essa fase tem muito em comum com todas as abordagens para tratamento de trauma. O aprendizado de técnicas de auto relaxamento é consistente com a meditação de plena atenção (mindfulness) e com os métodos de redução de estresse. Ela dá às pessoas um senso de confiança, de que elas não se sentirão perdidas quando terminar a sessão. É impressionante como as crenças disfuncionais podem mudar de ¨foi por minha culpa que eu fui abusada¨ para ¨eu não merecia aquilo¨. Não acontece tudo em uma sessão, mas…bem pode ser.

F.Verdade, pode ser.

No caso de um trauma único, pode levar duas ou três sessões. E você simplesmente quer que o paciente esteja na melhor condição possível, não apenas durante o processamento, mas também no período entre as sessões.

Então o paciente pode entrar e sair de um estado de fantasia auto-guiada?

F.Exatamente. Não é um dever de casa, como ocorre no caso das terapias comportamentais cognitivas para trauma. Mas digamos que leva três sessões para tratar um trauma único – você pode fazer sessões de manhã e de tarde, ou você pode fazer em três dias consecutivos. Em outras palavras, o tratamento pode ser feito em dias ou semanas, em vez de meses ou anos. E como todo o tratamento é realizado com psicoterapeutas, as pessoas não precisam sair e confrontar seus sentimentos e experiências negativas sozinhas para tentar fazer com que as coisas mudem.

Então o levantamento da história clínica, a identificação das memórias e a preparação corresponde as primeiras fases. O que vem depois?

F.Depois entramos no processamento. Nós identificamos a memória que causa o sintoma e então identificamos seus diferentes aspectos – a imagem, os pensamentos negativos associadas a ela, em que lugar do corpo eles sentem desconforto físico, qual a emoção….etc.. E uma vez que tenhamos acessado a memória, de uma certa forma, nós começamos o processamento, que envolve a estimulação do próprio sistema de processamento da informação do cérebro que permite a ocorrência de uma série de conexões.

Um dos procedimentos o processamento envolve uma forma de estimulação de atenção dual – isto é, o paciente acompanha os dedos do terapeuta com os olhos enquanto eles se movem rapidamente de um lado para outro, ou pode ser estimulação auditiva ou tátil. Parece estimular o sistema de processamento de informação do cérebro, e o paciente então faz associações diferentes e rápidas. Eles podem ter novos pensamentos sobre a memória, ou outras memórias podem emergir, ou novos insights (percepções) podem aparecer. Isso permite que o cérebro faça a digestão desse conteúdo ao estabelecer todas as ligações apropriadas que ele não conseguiu fazer no passado.

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