A Evolução do EMDR – Parte 1

Dra. Francine Shapiro, criadora da terapia de EMDR, em 1989, foi recentemente entrevistada pela Dra. Ruth Wetherford, psicoterapeuta americana, para o site psychoterapy.net. Por considerar que a entrevista esclarece questões relevantes sobre a técnica, nossa equipe do Espaço da Mente traduziu a entrevista que será publicada, na íntegra, em nosso site, em 6 tópicos. (fonte: http://www.psychotherapy.net/interview/francine-shapiro-emdr)

Quando uma xícara não é apenas uma xícara

Francine Shapiro, a senhora é criadora da terapia de EMDR, a fundadora e diretora executiva do Instituto de EMDR ( EMDR Institute) e autora de numerosos livros, artigos e entrevistas sobre esse processo. Eu gostaria de começar formulando uma pergunta básica: O que é a terapia de EMDR?

F. O Movimento Ocular, Dessensibilização e Reprocessamento, ou EMDR, é uma forma de terapia que foca a memória e o cérebro. Todo tipo de terapia tem um modelo próprio, uma forma diferente de conceituar os casos e procedimentos distintos. Por exemplo, na terapia cognitiva comportamental, a patologia é baseada em crenças e comportamentos impróprios. Na terapia de psicodrama, ela baseia-se nos conflitos intra-psíquicos. Na terapia de EMDR, a patologia é baseadas nas memórias não processadas que são armazenas de forma intacta – assim, se alguém tem algumas crenças irracionais e comportamentos negativos, isso não é a causa, mas sim o sintoma.

Por exemplo, digamos que somos humilhados ou vítimas de bullying na escola fundamental. Em vez de o cérebro digerir e buscar encontrar um sentido no acontecimento e deixar isso para lá, a memória na verdade fica armazenada no cérebro com as emoções, as sensações físicas e as crenças que tínhamos naquela ocasião. Uma das funções do sistema de processamento cerebral é buscar sentido para o mundo. Assim, se alguma coisa parecida ocorre 30 anos mais tarde, quando somos adultos, tem que se ligar à rede de memórias para que faça algum sentido. Em outras palavras, se eu nunca tiver visto uma xícara antes, não saberei o que é ou o que fazer com ela. As percepções que temos sobre algo no presente se ligam à rede de memórias e se elas conectam-se com essa memória não processada, ela é disparada, bem como as emoções, sensações físicas e crenças – Eu sou terrível, Eu não sou bom o suficiente, Eu não posso vencer.

As pessoas podem não fazer ideia da razão pela qual ficam sempre ansiosas em situações sociais ou quando se dirigem a alguém no trabalho, é que a situação as está conectando a alguma memória não processada, e esses sentimentos surgem automaticamente. Nós realmente estamos à mercê de nossa rede de memórias e, se uma experiência não foi processada, nós ficamos sujeitos aos sentimentos e às emoções negativas. Com a terapia de EMDR, identificamos quais são essas experiências anteriores e as processamos. Dessa forma, promovemos o realinhamento do sistema de processamento. O que ocorre em uma sessão de terapia com EMDR é que são feitas conexões rápidas ou insights e as emoções, sensações físicas ou crenças, todas elas, são deslocadas para um nível de aprendizado e resiliência, então nós simplesmente não somos mais mobilizados dessa forma.

A terapia de EMDR é também facilmente integrada a outros tipos de terapia. Com efeito, eu soube que a Senhora ganhou o prêmio Sigmund Freud da cidade de Viena.

F. As pessoas treinadas em terapias psicodinâmicas dizem que o EMDR permite que elas usem o que já sabem. Eles usam a terapia de EMDR para ajudar a identificar as memórias de infância que causam defesas não adaptativas e conflitos intra-psíquicos, e isso ajuda as pessoas a processarem essas memórias e experiências. Isso ocorre também com aqueles que praticam terapia comportamental cognitiva. A terapia de EMDR é usada para processar memórias que estão causando comportamentos disfuncionais e processos de cognições irracionais.

É um tratamento impressionantemente eficaz. Existem três estudos demonstrando que há uma remissão de 84 a 100% do TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático) em vítima de trauma único com cerca de cinco horas de tratamento.

Isso é fantástico!

F.Um estudo do uso de terapia de EMDR em veteranos de guerra mostrou que 78% dos indivíduos não apresentavam mais TEPT, após apenas 12 sessões. Naturalmente o tempo de tratamento necessário depende do número de memórias que devem ser processadas. Mas não é preciso processar cada evento separadamente porque as memórias estão conectadas. Em vez disso, você escolhe um que represente todo um grupo e assim há um efeito de generalização. Ele muda rapidamente.