A Evolução do EMDR – Parte 6

17 de abril de 2015

Entrevista com a Dra. Francine Shapiro, criadora do EMDR,
concedida ao site Psychotherapy.net

Imagem: Agnes Cecile

Parte Final – Traduzida pela Equipe do Espaço da Mente

O Trauma do Dia a Dia

RW- Eu gostaria de voltar a essa idéia, que prevalece em nossa sociedade, de que se você não teve grandes traumas, então tudo deve estar bem. De fato, isso não procede de forma alguma, como você já destacou. Existem tantos acontecimentos na vida que se tornam traumáticos devido a influências culturais. Existem tantos aspectos traumáticos e deteriorados de nossa cultura – o aumento da pobreza e do desemprego, enquanto a riqueza está nas mãos de grupos cada vez menores; a ênfase em extroversão e sentimentos positivos sobre o medo, raiva e sofrimento; a patologização de problemas normais na vida. Todas essas coisas são bastante traumatizantes, mas nós não pensamos nisso como algo com o qual nossa cultura deva se importar.

FS- Essa é uma das razões pelas quais escrevi o livro de auto-ajuda, Superando o Seu Passado (Getting Past Your Past) – para trazer a atenção para muitas das coisas que podem estar causando nossas reações e sintomas negativos no presente e explicar o que pode ser feito para reverter a situação. Existem tantos eventos na vida e tantas coisas sobre nossos relacionamentos que podem provocar ansiedade, depressão, insegurança e TEPT. Isso é explicável e tratável.

Nós temos uma organização sem fins lucrativos que foi fundada após as bombas jogadas na cidade de Oklahoma em 1995. Nós recebemos um telefonema de um agente do FBI que disse: Você pode por favor fazer alguma coisa, porque os profissionais de saúde mental estão caindo como moscas? Não havia nenhum tratamento empírico validado para trauma naquela época. Nós encaminhamos nossos terapeutas para oferecer tratamento gratuito aos profissionais que prestavam assistência na linha de frente e às vítimas. E a avaliação do programa mostrou que ele teve os mesmos efeitos positivos – cerca de 85% de taxa de sucesso em três sessões – do que um estudo controlado randomizado publicado naquele ano. Desde então, nossos Programas de Recuperação de Trauma- EMDR Assistência Humanitária, têm oferecido tratamento gratuito para vítimas de desastres naturais e provocados pelo homem em todo o mundo, e programas de baixo custo para áreas pobres de cidades americanas.

RW – Quantas pessoas estão trabalhando como voluntárias ou oferecendo tratamento de baixo custo?

FS- Existem centenas. Nós atuamos em várias grandes tragédias nos Estados Unidos como o Furacão Katrina e o Sandy, o atentado na Maratona de Boston e o tiroteio de Newton. Redes de Recuperação de Trauma tem sido estabelecidas em cerca de 30 cidades em todo o país. E nós também enviamos equipes para áreas de tsunamis e terremotos em todo o mundo. O EMDR Ásia foi criado alguns anos atrás, então agora eles são capazes de oferecer ajuda humanitária no próprio continente.

Mas existem tantos ainda que precisam de ajuda. Pessoas que foram feridas podem ferir outras. Molestadores de crianças, por exemplo, são sempre vistos como não tratáveis. Muitas pessoas não querem se envolver com eles. Nós basicamente os mantemos no ostracismo, isolados da sociedade.

RW- O que traumatiza ainda mais.

FS – Mas o diretor de um program incorporou seis sessões de terapia de EMDR para aqueles molestadores que pareciam mais incorrigíveis. Eles próprios haviam sido molestados na infância – que é frequentemente o caso com aqueles que molestam crianças – e quando seu próprio abuso foi trabalhado e processado, eles tiveram contato com o seu sentimento à época. Eles reconheceram que não tinham desejado aquilo e então, surgiu a empatia por suas próprias vítimas. Eles não se sentiam mais sexualmente atraídos pelas crianças. Isso foi medido por um instrumento chamado pletismógrafo peniano, que media sua excitação, e 90% não exibiam mais níveis elevados em relação às crianças. Assim, estamos tentando realizar mais pesquisas nessa área.

O fundamental é que estamos vislumbrando a possibilidade de ninguém precisar ser deixado para trás. Nós podemos receber as pessoas que parecem intratáveis e transformá-las em seres humanos positivos, para que elas não machuquem mais outras pessoas. Nós queremos ter certeza de que somos capazes de oferecer tratamento para todos que necessitam, assim vamos estancar o sofrimento das gerações futuras.

RW –  Para todos os terapeutas que estão lendo esta entrevista e se interessam em fazer o treinamento de EMDR, qual a melhor opção?

FS- É extremamente importante que os terapeutas que estejam interessados em participar do treinamento de EMDR procurem um programa certificado pela Associação Internacional de EMDR, nos Estados Unidos, ou pela Associação Europeia de EMDR na Europa. Existem pessoas oferecendo treinamento que não são de boa qualidade. Os treinamentos certificados consistem em seis dias mais a supervisão. Existem padrões internacionais que foram desenvolvidos para garantir que os terapeutas saibam o que estão fazendo antes de tratar dos pacientes. Organizações não lucrativas podem oferecer treinamento de baixo custo no âmbito dos programas de Recuperação de Trauma – EMDR de Assistência Humanitária.

RW- Algum comentário final que gostaria de fazer antes de concluirmos?

FS- Espero que entrevistas como esta realmente permitam que as pessoas entendam melhor o que é a terapia de EMDR e seu potencial de cura. A quantidade inimaginável de sofrimento que está assolando o mundo não precisa de continuar. As pessoas podem realmente curar-se em um período comparativamente curto de tempo e mudar para um estado de felicidade, força e resiliência, com relacionamentos saudáveis.

RW- Muito obrigada Francine pela ótima entrevista.

FS – Obrigada.

    1 Comentário

  1. Adriana
    2 de junho de 2015

    Thank you very much for the kind words. We are just beginning our path and hope to get support from people that, like us, believe in the importance of getting to know our minds better.

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