TEPT – O que ocorre no cérebro?

12 de outubro de 2016

Artigo importante para os estudiosos de EMDR que lidam sempre com o trauma e suas implicações físicas.

O que realmente ocorre nos cérebros do portadores de TEPT?

Especialistas sugerem nova teoria.

(Tradução do original do Psypost 9/10/16)

Há muitos anos, neurocientistas e médicos vêm tentando entender o velho mistério por trás do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), para explicar por que apenas algumas pessoas são vulneráveis e por que eles apresentam tantos sintomas e deficiências. Todos os especialistas da área afirmam que o TEPT tem suas origens em processos físicos que ocorrem dentro do cérebro – e não em algum tipo de “fragilidade” psicológica. Mas ainda não há um consenso claro sobre o que exatamente ocorreu de “errado” com o cérebro.

Em um artigo prospectivo publicado nesta semana no periódico Neuron, uma dupla de professores da Universidade de Michigan (UM)- que estudou o TEPT por diversos ângulos por vários anos – propõe uma teoria de TEPT que é resultado da integração de estudos anteriores de mais de uma década sobre o tema. Eles esperam incentivar o interesse em sua teoria e convidam profissionais da área a testá-la.

Nos final das contas, afirmam eles, as pessoas com TEPT aparentam apresentar deficiências no processamento de contexto. Essa é uma função primordial do cérebro que permite que pessoas e animais reconheçam que um estímulo específico possa requerer respostas diferentes dependendo do contexto no qual ele se encontra.Um exemplo simples, explicam eles, é reconhecer que quando vemos um leão da montanha em um zoológico não temos uma resposta de medo ou de fuga, ao passo que se encontrarmos este mesmo leão em nosso quintal teremos essas respostas.

Para algumas pessoas portadoras de TEPT, um estímulo associado ao trauma que eles vivenciaram anteriormente – como um barulho alto ou um odor especial – dispara uma resposta de medo mesmo quando o contexto é seguro. É por isso que eles reagem mesmo se o ruído vier da batida da porta da frente ou o cheiro vier da comida do jantar que foi acidentalmente queimada no fogão.

O processamento de contexto envolve uma região do cérebro chamada hipocampo e suas conexões com duas regiões conhecidas como córtex pré-frontal e amígdala. As pesquisas demonstram que as atividades dessas áreas cerebrais são prejudicadas em pacientes com TEPT. A equipe da UM acredita que sua teoria possa unificar evidências de amplo espectro ao mostrar como um rompimento nesse circuito pode interferir no processamento de contexto e assim explicar a maioria dos sintomas e grande parte da biologia do TEPT.

“Nós esperamos por um pouco de ordem em toda a informação que tem sido coletada sobre o estudo de TEPT em pacientes humanos e nos modelos de animais com o problema”, diz Israel Liberzon, MD, professor de psiquiatria da UM que também trata de veteranos de guerra portadores de TEPT. “Esperamos criar uma hipótese verificável, o que não é tão comum em pesquisas sobre saúde mental como deveria ser. Caso essa hipótese se revele verdadeira, talvez possamos desvendar alguns dos processos psicopatológicos subjacentes ao TEPT e oferecer tratamentos melhores”

Liberzon e seu colega, James Abelson, PhD, descrevem em seu trabalho modelos de TEPT que têm sido formulados em anos recentes e estabelecem as evidências para cada um deles. O problema, afirmam, é que nenhum desses modelos explica suficientemente os vários sintomas observados nos pacientes, nem todos as mudanças neurobiológicas complexas presentes no TEPT e em modelos de animais com esse transtorno.

O primeiro modelo, aprendizagem anormal do medo – se origina na amígdala – o centro de luta ou fuga do cérebro que foca na resposta às ameaças ou ambientes seguros. Esse modelo surgiu a partir dos trabalhos sobre condicionamento do medo, medo de extinção e generalização do medo. O segundo, detecção exagerada de ameaça, tem suas raízes nas regiões cerebrais que estabelecem quais os sinais no meio ambiente que despontam, ou são importantes para se tomar nota ou reagir a eles. Esse modelo foca na vigilância e nas respostas desproporcionais para ameaças percebidas. O terceiro, que envolve função executiva e regulação de emoções, origina-se principalmente no córtex pré-frontal – o centro do cérebro para manter o controle e planejamento das emoções ou mudar de uma tarefa para outra.

Ao focalizar apenas na evidência que apoia uma dessas teorias, os pesquisadores podem estar buscando algo em uma área limitada (buscar algo sob a luz de uma poste), diz Liberzon. “Mas se vemos tudo isso sob a luz da interrupção do processamento de contexto, nós podemos explicar por que equipes diferentes observaram coisas diferentes. Esses achados não são mutuamente exclusivos”

O principal, diz Liberzon, é que o “contexto não se trata apenas de informação sobre o meio ambiente – é a apresentação da emoção e das memórias adequadas para o contexto no qual a pessoa se insere”

Uma deficiência no processamento de contexto poderia levar os pacientes de TEPT a se sentirem perdidos, sem âncora, dentro do mundo que o rodeia, incapaz de organizar as respostas adequadas para os contextos atuais. Em vez disso, seus cérebros iriam impor um “contexto internalizado” – um que sempre tem a expectativa do perigo, seja qual for a situação.

Essa forma de deficiência, que surge no cérebro a partir de uma combinação de aspectos genéticos e de experiências de vida, pode, acima de tudo, criar uma vulnerabilidade para o TEPT, dizem os pesquisadores. Após o trauma, isso poderia gerar sintomas de hipervigilância, insônia, pensamentos e sonhos intrusivos, e explosões físicas e emocionais inapropriadas.

Liberzon e Abelson acreditam que a testagem da teoria de processamento do contexto pode desenvolver o entendimento do TEPT, mesmo se nem todos os seus detalhes sejam confirmados. Eles esperam contar com a ajuda da comunidade que estuda o TEPT. (…)

Enquanto a pesquisa não é desenvolvida, eles lembram que existe uma ampla gama de ferramentas terapêuticas que podem auxiliar pacientes com TEPT, como comportamental cognitiva, treinamento de meditação mindfulness e abordagens farmacológicas. Essas alternativas podem contribuir para ancorar os pacientes com TEPT em seus ambientes e podem se mostrar eficazes enquanto os pesquisadores aprendem como fortalecer a capacidade de processamento cerebral.

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