Tratamento de Fobias: Medo ou nojo?

9 de outubro de 2014

O pesquisador Graham Davey chegou a uma conclusão muito interessante quanto ao tratamento de fobias! Ao lidar com o paciente com fobia precisamos levar em conta em que medida determinada situação ou objeto ansiogênicos ativam determinado trajeto neural da ansiedade! Quando as reações tipicamente evitativas da fobia são provocadas por algo que desperta medo, como por exemplo: altura, viajar de avião, ser atacado por um cachorro ou falar em público, a resposta do cliente ao tratamento é mais rápida.

Ainda nos anos 80, Graham Davey começou a estudar pacientes na Inglaterra que tinham medo de aranhas e cobras, sendo que vários deles jamais havia sequer visto ao vivo qualquer um dos dois animais. Ele considerou a possibilidade evolutiva dessa reação, de esse medo ter registrado em nossos genes o reconhecimento de um perigo que no passado pusesse em risco a sobrevivência. Depois de observar a inclusão de fobias de outras criaturas não letais nessa lista, como: baratas, lesmas, vermes, etc, deu-se conta de que o aquilo que o paciente refere-se como medo, na verdade é nojo (disgust), repugnância. Essa reação ainda tem um caráter adaptativo e de sobrevivência, como o de avaliar se um alimento encontra-se próprio para consumo ou se foi contaminado por vermes, se entrou em processo de decomposição e pode provocar ou transmitir doenças.

O psicólogo observou que em termos cerebrais as fontes puras de medo são mais ativadoras do sistema nervoso simpático, que prepara a pessoa para a luta ou para a fuga. Curiosamente, as fontes de nojo em geral seguem outro trajeto: são mais ativadoras do sistema nervoso parassimpático, que promove o congelamento. Apesar de a princípio serem todos incluídos no reino das fobias, tratam-se de processos distintos, pois mobilizam caminhos distintos de ativação.

Apesar de ambas as categorias de medo e nojo despertarem ansiedade, há distinções até mesmo de expressão facial das pessoas diante de estímulos que provocam uma coisa ou outra, diante de um cachorro agressivo ou de uma pessoa que vomita. O autor chega a comentar sobre o nojo como a emoção esquecida da psiquiatria (Phillips et al., 1998).

Para os terapeutas que trabalham com terapias de reprocessamento (principalmente EMDR e Brainspotting), essa pode ser uma distinção importante na avaliação de nossos pacientes e demande ajustes técnicos em termos de protocolos de intervenção a serem utilizados no tratamento dessas queixas.

Graham C.L. Davey is in the Department of Psychology at the University of Sussex. E-mail: grahamda@sussex.ac.uk.

Referências Bibliográficas

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Davey, G.C.L. (1994).The ‘disgusting’ spider:The role of disease and illness in the perpetuation of fear of spiders. Society and Animals, 3, 17–24.

Davey, G.C.L., McDonald, A.S., Hirisave, U., Prabhu, G.G., Iwawaki, S., Im Jim, C. et al. (1998). A cross-cultural study of animal fears. Behaviour Research and Therapy, 36, 735–750.

Isbister, G.K. (2001). Spider mythology across the world. Western Journal of Medicine, 175, 86–87.

Matchett, G. & Davey, G.C.L. (1991). A test of a disease- avoidance model of animal phobias. Behaviour, Research and Therapy, 29, 91–94.

Phillips, M.L., Senior, C., Fahy,T. & David,A.S. (1998). Disgust – The forgotten emotion of psychiatry. British Journal of Psychiatry, 173, 373–375.

Rozin, P. & Fallon,A.E. (1987).A perspective on disgust. Psychological Review, 94, 23–41.

Seligman, M.E.P. (1971). Phobias and preparedness. Behavior Therapy, 2, 307–320.

Ware, J., Jain, K., Burgess, I. & Davey, G.C.L. (1994). Disease-avoidance model: Factor analysis of common animals fears. Behaviour Research and Therapy, 32, 57–63.

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