Exposição a trauma x Problemas mentais

6 de janeiro de 2015

Milhares de noruegueses juntaram-se em cerimônias para homenagear as 77 pessoas assassinadas um ano antes por Anders Breivik. Em momentos desafiadores, costumava-se dizer para as pessoas engolirem o choro e seguir adiante quando coisas ruins as acometiam. Anos mais tarde, lá pelos anos 70, tudo isso mudou. O padrão passou a ser reivindicar, por causa do sofrimento, ajuda profissional quando eventos estrelantes ocorriam.

Essa nova atitude promoveu uma explosão de terapias.

Quem sofria de luto normal buscou terapia tanto quanto aqueles incapacitados por depressão ou crises de ansiedade.

Após os ataques de 11 de setembro nos EUA e os bombardeios em Londres, observou-se que nem todos desenvolveram problemas de saúde mental significativos, nos números esperados. Por exemplo: 7,5% dos residentes de Manhattan expostos aos eventos do 11 de setembro mostraram sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) um mês após o evento, mas esse percentual caiu para 0,6%, sem intervenção específica, seis meses mais tarde.

Outra tragédia envolvendo tiroteio de um fanático, Anders Breivik, ocorreu em 2011, na ilha Utoya, na costa da Noruega. 564 jovens foram expostos a um ataque prolongado, durante o qual ocorreram 69 fatalidades e 56 ferimentos graves.

A maioria dos jovens ouviu a voz de Breivik e grande número também o viu, enquanto buscavam abrigo.

Um estudo dos sobreviventes, feito por Grete Dyb da Universidade de Oslo, publicado no the British Journal of Psychiatry, mostra que ao serem entrevistados 4-5 meses após o evento, TEPT foi 6 vezes mais alto do que na população em geral da Noruega, com 11% por cento descrevendo quadro completo de TEPT e 36% descrevendo alguns sintomas. Apoio social substancial foi um fator de proteção contra o agravamento do quadro.

Em outro estudo no mesmo fascículo do British Journal of Psychiatry, feito por Eva Alisc, da Monash University e do University Medical Centre, Utrecht, foi examinada a prevalência de TEPT em crianças e adolescentes expostos a vários traumas por combinação de resultados de 72 estudos revisados por avaliadores e por corpo editorial. Foi descoberto que em geral 15,9% da amostra havia desenvolvido TEPT. Isso foi mais elevado em moças do que em meninos e mais elevado para traumas infligidos por outros significativos do que para traumas não-interpessoais.

O que essas descobertas falam sobre vulnerabilidade e sobre resiliência? Em um editorial cuidadosamente escrito, Jonathan Bisson (Cardiff University), profissional de destaque no campo de TEPT na Irlanda, destaca que nem todas as pessoas expostas a trauma terrível desenvolvem problemas psiquiátricos de grande complexidade. Na verdade, parece que na maioria dos casos isso não ocorre.

Esses dados levantam a questão de como deveríamos responder quando um indivíduo ou um grupo for exposto a eventos horríveis e como deveríamos tratar aqueles que exibem problemas de saúde mental depois disso. Há agora informação clara de que uma sessão única de debriefing (falar de forma aprofundada e emocional sobre o assunto) pós-evento não é útil e pode ser prejudicial. Tentativas de desenvolver debriefing em sessões múltiplas também se mostraram fracassadas em evitar prejuízos. Bisson argumenta que para a maioria, a reação a tais eventos não deveria ser medicalizada ou patologizada. Em vez disso, ele advoga primeiros socorros psicológicos.

Nos primeiros estágios após o evento:

  • encorajar senso de segurança e de calma;

  • enfatizar esperança e empoderamento pessoal;

  • prover a oportunidade de falar, respeitando ao mesmo tempo o desejo de algumas pessoas de não o fazer;

  • vincular pessoas a família e amigos;

  • encorajar a retomada de rotina diária; e

  • identificar aqueles que necessitam de ajuda adicional, providenciando encaminhamento psicoterápico.

Essa perspectiva com viés no coping (enfrentamento) de eventos profundamente perturbadores mostra que, na maioria dos casos, seres humanos são resilientes. A não ser que haja fatores específicos de risco, a maioria lida bem com suas emoções com auxílio de familiares e amigos.

Isso também traz implicações para como deveríamos responder a eventos não necessariamente traumáticos, como a perda de um ente querido que falece, o colapso de relacionamentos e assim por diante.

Já que a maioria de nós é resiliente, podemos lidar com tais eventos com o apoio daqueles que se importam conosco, sem patologizar/medicalizar os altos e baixos da vida.

É chegada a hora de repensar nossa cultura de terapia e reservá-la para a minoria que precise dela.

O uso ostensivo de psicoterapia para se lidar com os altos e baixos da vida não é obrigatório.

Pesquisadores de resiliência estão interessados em duas questões fundamentais: “Porque a maioria das pessoas enfrenta bem as coisas ruins que acontecem com elas” e “Qual é a fonte de resiliência humana?”

Um número de atributos têm sido identificados como associados com resiliência e esses incluem:

  • o comprometimento de encontrar sentido na vida;

  • a crença de que podemos influenciar nosso meio ambiente emocional e

  • crescimento a partir de experiências, tanto negativas quanto positivas.

Elevada autoestima e capacidade de sentir emoções positivas em face de trauma (gratidão, interesse, amor, memórias felizes) também têm sido vinculadas a resiliência.

Finalmente, o que se tornou conhecido como enfrentamento repressivo (repressive coping) ou a tendência a evitar memórias desagradáveis, pensamentos ou emoções perturbadoras também tem se mostrado útil.

A noção de que indivíduos comuns são fortes e capazes de enfrentar promove uma revisão nas ideias profissionais e populares de como as pessoas respondem à adversidade – as pesquisas mostram que nos saímos muito bem em geral e não se deve interferir nem abafar de modo repressivo essas habilidades.

Veja mais em: http://www.independent.ie/life/health-wellbeing/mental-health/most-people-exposed-to-trauma-do-not-develop-mental-health-problems-30391250.html#sthash.oX3UUhfx.dpuf

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